Herança maldita? Galípolo assumirá BC sem espaço para baixar juros

Em sua última reunião de 2024, o Copom anteviu altas na Selic durante os primeiros meses da gestão de Gabriel Galípolo no Banco Central (BC)
Imagem colorida de Gabriel Galípolo, indicado por Lula para presidência do Banco Central - Metrópoles

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nessa quarta-feira (11/12) elevação de 1 ponto percentual (p.p.) na taxa básica de juros, a Selic. A decisão encerra o ciclo de Roberto Campos Neto na autarquia — seu mandato chega ao fim em 31 de dezembro de 2024 —, mas o ciclo de aperto monetário, ou seja, de aumento dos juros, deverá persistir no início da gestão do próximo presidente.
Desta maneira, o próximo presidente, Gabriel Galípolo, assumirá no ano que vem sob pressão. Ele pegará um cenário com juros altos e com indicações de novas altas. Ou seja: não haverá espaço para baixar os juros, pelo menos não logo no início do mandato.
A reunião de quarta foi a última do Copom presidida por Campos Neto, indicado pelo governo Jair Bolsonaro (PL). Em 2025, Campos Neto passará o bastão para o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que será o primeiro presidente do BC indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no atual mandato.

O comunicado divulgado ainda na noite de quarta-feira pelo Copom trouxe a informação de que o comitê antevê, “em se confirmando o cenário esperado”, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões, que ocorrerão apenas em 2025. As primeiras reuniões ocorrerão no fim de janeiro e em meados de março. A Selic poderá chegar a 14,25% ao ano ainda no primeiro trimestre, portanto, logo no início da gestão de Galípolo.

Até o fim deste ano, a diretoria é composta, em sua maioria, ainda por nomes escolhidos por Bolsonaro. A partir do ano que vem, o governo Lula passará a ter maioria na diretoria do Banco Central, com sete dos nove diretores indicados pelo petista. Isso porque, desde 2021, a lei de autonomia do BC estabeleceu mandatos fixos para os diretores do órgão e não coincidentes com o do presidente da República.

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Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comparece a audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado Federal
Gabriel Galípolo, indicado para a presidência do BC
Galípolo trabalha no Banco Central desde 2023
Gabriel Galípolo, diretor do BC

Galípolo assume com a missão de dar continuidade aos compromissos assumidos pelo BC e também com a pressão para atender o PT e o governo Lula, que consideram o patamar atual da Selic excessivo.

O arrocho petista se traduz principalmente na voz da presidente nacional do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Pelas redes sociais, ela classificou a decisão de elevar os juros de “irresponsável, insana e desastrosa para o país”, e aproveitou para alfinetar Campos Neto:

“É o fecho da trajetória nefasta do bolsonarista Campos Neto no BC, responsável pela criminosa sabotagem à economia do país nos dois primeiros anos do governo Lula. Sufocou a economia e o crédito e não cuidou da especulação com o câmbio, que era sua obrigação combater. Já vai tarde Campos Neto”.

Do lado do setor produtivo, também há queixas. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, a recente alta da Selic é “incompreensível e totalmente injustificada”. “A decisão do Banco Central ignora a desaceleração da atividade econômica, já observada no PIB do terceiro trimestre, e a tendência de redução de juros nas principais economias globais, como os Estados Unidos, que partem para o terceiro corte seguido nos juros na próxima semana”, disse a entidade.

O que significa um aumento dos juros?

A taxa de juros é o principal instrumento de política monetária do BC, para manter a inflação dentro da meta — de 3% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, sendo 4,5% (teto) e 1,5% (piso), como determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Ao elevar a Selic para conter a inflação, a consequência esperada é a redução do consumo e dos investimentos no país. O crédito fica mais caro e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para os consumidores e produtores.

Atualmente, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, está em 4,87% nos últimos 12 meses até novembro — 0,37 ponto percentual acima do teto da meta.

O mercado financeiro aposta que a inflação vai estourar o teto da meta, ficando em 4,59% até o fim do ano. O dado referente ao mês de dezembro será divulgado em 11 de janeiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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