Homem que será executado hoje nos EUA já sobreviveu em outra execução por injeção letal: “agora vai ser método novo”

foto: reprodução

Estado do Alabama, nos EUA, deve executar homem com método considerado cruel

Está marcada para esta quinta-feira (25) no estado do Alabama, nos Estados Unidos, a execução de um condenado à morte por meio de asfixia por gás nitrogênio. É a primeira vez que esse método será usado nos EUA.

Kenneth Smith, de 58 anos, tentou dois últimos recursos para adiar a execução. O primeiro foi negado na quarta-feira pela Suprema Corte dos EUA. O outro ainda está pendente de julgamento em uma Corte de Apelações. 

O horário de execução pode ocorrer, segundo a imprensa americana, da meia-noite desta quinta até as 6h de sábado (26), no Alabama, onde ele está preso.

Smith matou uma mulher em março de 1988. O assassinato foi encomendado pelo marido dela, um pastor, segundo a acusação. O marido se suicidou.

Em 17 de novembro de 2022, Smith sobreviveu a uma tentativa de execução por injeção letal. Ele ficou amarrado em uma maca por mais de uma hora enquanto policiais tentavam, sem sucesso, encontrar uma veia boa o suficiente para receber o veneno. À Justiça, a defesa diz que Smith sentiu dor física e psicológica e desenvolveu transtorno de estresse pós-traumático.

A defesa diz ainda que o condenado à morte está sendo submetido como “cobaia” a um método novo e experimental.

“Depois da primeira tentativa torturante de executar Kenny Smith por injeção letal falhar, o Alabama agora planeja tentar de novo”, escreveu Bryan Stevenson, diretor-executivo da ONG Equal Justice Initiative.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU e a Anistia Internacional também instaram o estado do Alabama a não executar Smith. A porta-voz do alto comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, disse em 16 de janeiro que o órgão estar alarmada com a execução iminente de Smith —criticou ainda o fato de ser um método jamais testado.

Smith foi um dos dois homens condenados pelo assassinato por encomenda, em 1988, da esposa de um pastor. Os promotores afirmaram que Smith e o outro homem receberam cada um US$ 1.000 para matar Elizabeth Sennett a pedido de seu marido, que estava profundamente endividado e queria receber dinheiro do seguro. O marido se suicidou.

O que é hipóxia por nitrogênio?

A execução por hipóxia por nitrogênio causaria a morte ao forçar o detento a respirar nitrogênio puro, privando-o do oxigênio necessário para manter as funções corporais.

Nenhum estado usou a hipóxia por nitrogênio para cumprir uma sentença de morte. Em 2018, Alabama se tornou o terceiro estado — junto com Oklahoma e Mississippi — a autorizar o uso de gás nitrogênio para executar prisioneiros.

Alguns estados estão buscando novas formas de executar detentos porque as drogas usadas em injeções letais, o método mais comum de execução nos Estados Unidos, estão cada vez mais difíceis de encontrar.

Como funciona a execução?

O nitrogênio, um gás incolor e inodoro, constitui 78% do ar inalado pelos humanos e é inofensivo quando respirado com os níveis adequados de oxigênio.

A teoria por trás da hipóxia por nitrogênio é que a alteração da composição do ar para 100% de nitrogênio fará com que Smith perca a consciência e, em seguida, morra por falta de oxigênio.

Muito do que está registrado em revistas médicas sobre a morte por exposição ao nitrogênio vem de acidentes industriais —onde vazamentos ou confusões com nitrogênio mataram trabalhadores— e tentativas de suicídio.

O que o estado do Alabama pretende fazer?

Após Smith ser preso à maca na câmara de execução, o estado afirmou em uma petição judicial que colocará um “respirador de ar tipo-C”, um tipo de máscara normalmente usada em ambientes industriais para fornecer oxigênio vital, sobre o rosto de Smith.

O diretor da prisão então lerá o mandado de morte e perguntará a Smith se ele tem alguma última palavra antes de ativar “o sistema de asfixia por nitrogênio” de outra sala. O gás nitrogênio será administrado por pelo menos 15 minutos ou cinco minutos após a ausência de sinais vitais no eletrocardiograma, “o que for durar mais”, de acordo com o protocolo estadual.

O escritório do procurador-geral do Alabama disse à Justiça que o gás nitrogênio “causará inconsciência em questão de segundos e causará a morte em questão de minutos”.

Os advogados de Smith afirmam que o estado está tentando torná-lo “cobaia” para um novo método de execução.

Eles argumentaram que a máscara que o estado planeja usar não é totalmente fechada e a entrada de oxigênio poderia sujeitá-lo a uma execução prolongada, possivelmente deixando-o em estado vegetativo em vez de matá-lo. Um médico que testemunhou em favor de Smith disse que o ambiente de baixo oxigênio poderia causar náuseas, levando Smith a sufocar com seu próprio vômito.

Peritos nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas alertaram no início deste mês que, para eles, o método de execução por asfixia com uso de nitrogênio violaria a proibição de tortura e de outras penas cruéis, desumanas ou degradantes.

A Associação Médica Veterinária Americana escreveu em diretrizes de eutanásia em 2020 que a hipóxia por nitrogênio pode ser um método aceitável de eutanásia sob certas condições para porcos, mas não para outros mamíferos, pois cria um “ambiente que é angustiante para algumas espécies”.

A execução pode ser adiada?

A questão de se a execução poderá ser adiada foi rejeitado na quarta-feira (24) pela Suprema Corte dos EUA.

O 11º Tribunal de Apelações dos EUA ouviu argumentos na sexta-feira (19) no pedido de Smith para impedir a execução, mas ainda não emitiu decisão.

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